Caio Júlio César Augusto Germânico, mais conhecido popularmente pelo seu apelido: Calígula. Um dos imperadores mais famosos e cheios de histórias do Império Romano. Regente de Roma de 37 d.C. até 41 d.C., teve um governo de curto período mas suficiente para muitas polêmicas históricas.
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O nome “Calígula” significa, do latim, “Botinhas”, posta pelos soldados das legiões comandadas pelo seu pai, que achavam graça em vê-lo vestido de legionário com pequenas botinhas nos pés para proteção.
Após a morte de seu pai, a família de Calígula passou por uma série de mortes bastante misteriosas. Vários historiadores dão a autoria desses crimes ao próprio Calígula, que tinha total interesse em herdar o trono romano, pois o imperador anterior a ele era seu tio.
Os exageros no jeito de governar fizeram uma crise econômica de enorme gravidade, principalmente por conta das suas reformas urbanísticas de Roma e das cidades vizinhas, cujo objetivo era mostrar opulência do seu governo, que culminou em falta de dinheiro no governo e fome.
Uma das loucuras de Calígula foi durante a campanha do exército romano na Grã-Bretanha, pois em vez de mandar lutar, o imperador ordenou que as legiões catassem conchas das praias e levassem para Roma as mais bonitas para uma coleção particular de Calígula.
Um dos escândalos mais proeminentes, de acordo com os historiadores, foi o fato de Calígula manter relações sexuais incestuosas com suas irmãs, obrigar seus cunhados a fazerem sexo com ele e prostituir a mãe e as irmãs, sendo o cafetão delas recebendo uma porcentagem de cada programa.
Existem poucas fontes sobreviventes que descrevam o seu reinado, nenhuma das quais refere de maneira favorável. Pelo contrário, as fontes centram-se na sua crueldade, extravagância e perversidade sexual, apresentando-o como um tirano demente.
Até os três ou quatro anos de idade acompanhou o pai nas incursões do norte da Germânia, tornando-se o “mascote” da legião, chegando a aprender a matar e a se defender com essa tenra idade. É nesse período que ganha o apelido que o eternizou: “Calígula”, ou “Botinha”. Depois de grande, ao que tudo indica, ele passou a odiar esse apelido, muito usado por seus adversários políticos.
De acordo com muitos historiadores especializados em Roma Antiga, Calígula era um “ótimo ator”. Ou seja, sabia atuar como falso aliado e agente duplo entre aqueles que sabia ser de moral duvidosa. Foi desta maneira que conseguiu se libertar da prisão domiciliar que vinha sofrendo há seis anos, desde a morte do pai e dos avós.
Os historiadores escrevem que Calígula armou uma forte coalizão de políticos ao seu redor para que ele conseguisse subir ao poder como imperador, uma vez que, aos poucos, foi galgando espaço entre os imperadores e, por sua atuação, ganhando a simpatia dos generais das legiões. Alguns psicólogos e psiquiatras veem nesse comportamento do nosso personagem um grave toque de psicopatia social.
Diz a história que quando Calígula subiu ao trono, foi extremamente aclamado por todo o povo, desde os generais do exército e os aristocratas até o povo mais humilde e escravos, pois prometera uma série de reformas. Durante sua aclamação, por já ser conhecido pelo exército como pequeno mascote e por ser muito novo, foi chamado em coro nas ruas de Roma como “Nosso bebê”.
Os primeiros atos de Calígula como imperador foram generosos com o povo e o exército embora. O imperador concedeu à guarda pretoriana e às tropas urbanas e fronteiriças uma generosa recompensa pelos serviços prestados, a fim de ganhar o apoio do exército. Destruiu os documentos nos quais ficaram registrados os nomes dos acusados de traição durante o mandato de Tibério, declarou que os juízos por traição eram coisa do passado e chamou para Roma os exilados.
Logo depois de ser nomeado como imperador, Calígula caiu gravemente doente. De acordo com os historiadores da época, todos entraram no mesmo consenso: o governante acabou amigo dos excessos: muita comida, muita gordura, muita bebida, muito fumo, uso de drogas etc.
Curiosamente, após recobrar a saúde, Calígula ordenou assassinar várias pessoas que prometeram as suas vidas aos deuses se o imperador se recuperava. Forçou a cometer suicídio àqueles exilados durante o seu reinado: a sua esposa; o seu sogro, Marco Silano; e o seu primo, Tibério Gemelo.
Em 38, a administração de Calígula focou-se nas reformas públicas e políticas que precisava o império. Foi publicado um documento com os registros das despesas que realizara o imperador, algo nunca feito durante o reinado de Tibério; os afetados pelos incêndios foram ajudados; foram abolidos certos impostos; e impulsionados os eventos desportivos. Também foram admitidos novos membros nas ordens senatorial e equestre. Talvez o mais significativo deste período seja a volta das eleições democráticas.
A política de Calígula, pontuada pela generosidade e a extravagância, esgotou as reservas financeiras do Império. Os historiadores antigos afirmam que Calígula reagiu acusando falsamente alguns senadores e cavaleiros para multa-los e até mesmo executá-los com o propósito de se apoderar do seu patrimônio. Com o objeto de fazer face à crise, Calígula pôs em funcionamento uma série de medidas desesperadas, algumas das quais são descritas pelos historiadores; como pedir dinheiro ao povo nos atos públicos. Estabeleceu novos impostos nos juízos, casamentos e prostíbulos, e implementou leilões pela venda dos gladiadores nos espetáculos.
Uma das excentricidades do governo de Calígula foi ter feito a população romana passar fome enquanto os barcos que eram usados para abastecimento de cereais passaram a ser usados simplesmente como pontes flutuantes.
Outro ponto alto é que, no meio da crise alimentar pela qual a capital do império passava, Calígula desprendeu esforços para a construção de infraestruturas particulares, como palácios de amigos e aliados políticos, portos privados para comércio com o Egito, construção de anfiteatros e de teatros fechados, além de casas de banho.
Além disso, o imperador tinha um lazer extremamente extravagante. Além de prostituir a mãe e as irmãs, e fazer sexo com seus cunhados depois de longas bebedeiras, mandou construir circos em todo império e, no Lago Nemi, mandou montar as duas maiores embarcações da sua época para poder desfrutar o verão no leito do lago como os ricos fazem em suas enormes lanchas iates de vários pés.
Outro ponto nevrálgico da história do nosso personagem no post de hoje é que ele era extremamente vingativo, e por isso mandou executar vários políticos, senadores, supostos aliados e, principalmente, os seus inimigos causando a revolta do Senado Romano, que se sentia coagido com um imperador à beira da loucura.
Em 40, Calígula desenvolveu uma série de políticas muito controvertidas que fizeram da religião um importante elemento do seu papel político. O imperador começou a realizar as suas aparições públicas vestido de deus e semideus, como Hércules, Mercúrio, Vênus e Apolo. Referia a si mesmo como um deus quando comparecia ante os senadores, e ocasionalmente aparecia nos documentos públicos com o nome de Júpiter. Erigiu trêstemplos dedicados a si mesmo.
Durante a governança de Calígula, ele teve que enfrentar várias revoltas populares de cunho religioso, além de gravíssimas conspirações do exército e dos demais políticos. Uma das revoltas mais proeminentes foi a do Egito, quando gregos e judeus se recusaram insistentemente a adorarem Calígula como um deus.
Os historiadores contemporâneos ao imperador colocam Calígula como uma pessoa demente, vaidoso, caprichoso, debochado, tarado e enfermo sexual. Foi acusado de estuprar as mulheres de seus ministros e fazer sexo com seus cunhados, além de matar por pura diversão.
De acordo com outras fontes históricas da época, Calígula tinha um temperamento muito forte, “pavio curto”, era esquentado e de poucos amigos. Em relação à sua fisionomia, era alto, grande, pernas grossas, olhos fundos, poucos cabelos, testudo, corpo peludo, rosto feio e era extremamente feroz com qualquer um.
Outras histórias também são incomuns, tais como: mandar legiões para exercícios irreverentes (como catar conchinhas na praia na Grã-Bretanha), prostituir a família, transformar o palácio em um bordel, além da história mais famosa de todas envolvendo o seu nome: o imperador quis nomear o seu cavalo, Incitatus, cônsul e sacerdote.
Segundo Josefo, as ações do imperador desencadearam uma série de conspirações na sua contra, até finalmente ser assassinado; no mesmo, viram-se envolvidos os integrantes da guarda pretoriana, liderados por Cássio Querea. Embora o complô fosse concebido somente por três homens, é provável que muitos senadores, soldados e equipes estivessem a par do mesmo e, de certa forma, envolvidos.
Apesar da fama de louco, das crises políticas e econômicas, a morte de Calígula através do seu assassinato mostrou como o exército permanecia leal a ele, impedindo a instauração da república, e a população pediu nas ruas de Roma que os responsáveis pela morte do imperador fossem condenados à morte.
Das poucas fontes sobreviventes, não existe nenhuma que ofereça uma visão favorável do imperador. A escassez e parcialidade dessas fontes deu lugar a importantes lacunas a respeito do seu reinado. Dos seus dois primeiros anos no trono não sobreviveu praticamente nada e, além disso, os importantes eventos acontecidos durante o seu reinado, tais como a anexação da Mauritânia, a campanha na Britânia e as diferenças com o senado, não foram descritas devidamente Suetônio escreve que Calígula padeceu epilepsia quando era novo.
Os historiadores modernos teorizaram que o imperador vivia com um profundo e contínuo medo a sofrer um ataque associado à sua doença. Apesar de que aprender a nadar era parte da educação imperial, o imperador não o fez, pois os epiléticos podem sofrer ataques causados pela luz que se reflete na água. Também é dito dele que falava com a lua cheia, e a lua é relacionada ocasionalmente com a epilepsia. Muitos historiadores defenderam que Calígula padecia hipertiroidismo.