domingo, 12 de fevereiro de 2012

Discografia Comentada King Diamond - The Eye [1990]


Podemos nos referir a King Diamond como o vocalista com maquiagem demoníaca, que canta em falsete e usa uma cruz feita de ossos como base para seu microfone, ou podemos falar sobre a banda como um todo. Claro que é muito mais representativo falar do vocalista dinamarquês, afinal o grupo leva seu nome artístico, mas acredito que isso diminuiria o trabalho dos outros músicos integrantes, principalmente de um guitarrista fantástico chamado Andy LaRocque. Todos os outros componentes da banda ao longo dos anos foram mudando, mas o cerne do grupo é essa dupla. Antes de falar sobre o disco que é tema deste artigo eu gostaria de deixar registrado o quanto considero Andy LaRoque um guitarrista excelente, porém injustiçado e quase sempre esquecido. Além do seu ótimo trabalho com o King Diamond, Andy também foi membro durante um tempo de outra grande banda, o Death de Chuck Schuldiner, gravando o álbumIndividual Thought Patterns.

Andy La Rocque em foto atual de seu site oficial

The Eye é um clássico disco conceitual do King Diamond. Em sua carreira solo, o vocalista deixou de lado o satanismo que era o tema principal de sua ex-banda, o Mercyful Fate, para se dedicar a contar histórias de terror. Apenas dois de todos seus discos solo não são totalmente conceituais, a saber, Fatal Portrait (1996) e The Spider’s Lullabye (1995). Porém, mesmo esses álbuns ainda possuem algumas músicas ligadas entre si.
A história de The Eye gira em torno de um colar conhecido como “O Olho da Bruxa”, ou simplesmente “O Olho”. Esse objeto tem poderes que permitem mostrar o passado para quem o usa e também causar a morte de quem o olhar diretamente. O álbum abre com “The Eye of the Witch” que apresenta ao ouvinte o colar e suas características. A canção foi o único single lançado do disco.
Depois disso temos “The Trial (Chambre Ardente)”, que conta o julgamento de Jeanne Dibasson, uma suposta bruxa. O tribunal é comandado por Nicholas de La Reymie, chefe da Chambre Ardente, ou Câmara Ardente, que nada mais é que o órgão da Inquisição Francesa. A música na verdade é um diálogo entre o investigador e a mulher. O clima da canção, com seu riff pesado e arrastado, combina perfeitamente com o diálogo e os eventos que ocorriam realmente nesse tipo de caso de suspeita de bruxaria. No álbum todos os nomes dos personagens que são apresentados são descritos como reais, como mostra o texto, traduzido, abaixo:

“As partes principais das histórias narradas
neste álbum são, infelizmente, verdadeiras
e ocorreram durante a inquisição francesa,
entre 1450 e 1670. Todos os personagens seguintes
são reais e pertencentes àquela época.”

Como todos sabem, esses julgamentos na época praticamente tinham um fim certo, a execução da bruxa. É o que descreve a música seguinte. Com seu sugestivo título, “Burn”, conhecemos então o destino de Jeanne Dibasson, o mesmo destino de diversas pessoas durante o período de inquisição na Europa. Uma particularidade da Inquisição Francesa é que, diferentemente da Espanhola e da Portuguesa, quem fazia a investigação eram juízes de direito. Depois de julgada, aí sim a pessoa era passada para a igreja, a fim de receber sua punição. Mas é claro que isso era apenas uma mera formalidade.

Um representação de um tribunal de inquisição "trabalhando"

“Two Little Girls” faz a conexão entre a história de Jeanne Dibasson com a parte restante do disco. Teclados sinistros acompanham a voz de King Diamond ao narrar a cena de duas meninas que estão brincando em um local onde as bruxas eram queimadas, quando encontram um colar no meio das cinzas. As duas garotas brigam pela posse dele e uma delas, ao olhar fixamente para o objeto, morre. Não há referências a isso, mas é coerente pensar que a garota que ficou com o colar é Madeleine Bavent, personagem central da segunda parte da história, que acontece em um convento em Louviers, que fica no norte da França. A segunda parte da história inicia-se com “Into the Convent” (não confundir com “Into the Coven”, clássico do Mercyful Fate) que conta a história da freira, Madeleine, que era forçada pelo padre Pierre David, capelão do convento, a participar nua de um ritual chamado por ele de “comunhão”. Em um dos dias do ritual ela resolve colocar o colar e padre David morre ao olhar para ele. “Into the Convent” é musicalmente uma das melhores do álbum, destaque para os guitarristas, que detonam nessa música.
O convento não pode ficar sem um capelão, então padre Mathurin Picard (ou “Father Picard”, nome da faixa) é o novo encarregado. Rapidamente ele escolhe quatro freiras que vão participar com ele de uma “comunhão” (sim, novamente a tal comunhão). Mas as freiras começam a ser controladas por padre Picard por meio de um pó branco que ele adiciona no vinho que elas ingerem durante o ritual, deixando-as sem lembranças e sem vontade própria. Na próxima canção, “Behind These Walls”, Madeleine começa a ter alguns flashes e lembrar-se vagamente de alguns acontecimentos dessa comunhão e fica se perguntando o que acontece atrás desses muros do convento.

O Rei Diamante se preparando para um show

O mistério é desvendado na faixa seguinte, “The Meetings”. O que acontece é nada mais nada menos um ritual de sacrifício de recém-nascidos que são crucificados por dois padres e quatro freiras, todos liderados por Picard. Nessa hora nos lembramos do texto em que diz que os eventos contados no álbum são verdadeiros. Sinistro...
Seguindo, temos uma música instrumental chamada “Insinity”. Belo arranjo de violões, acompanhando um solo cheio de melodia e muito bonito. Após acompanhar a história sinistra que estávamos conhecendo, essa música serve para aliviar a tensão da descoberta que tivemos ao saber dos bebês e da crucificação. Também prepara o ouvinte para o desfecho da história. Todos os que participavam dos rituais foram presos, é o que conta “1642 Imprisonment”. O solo no final dessa música é o mais fantástico do disco. Madeleine Bavent, agora presa, sente-se mais livre libertando-se do inferno que era sua vida.
O disco encerra com “The Curse” que tem o objetivo de fechar a história dizendo que o poder do “Olho” vai sempre continuar. Como na primeira faixa a pessoa estava voltando ao passado, podemos dizer que agora ela está retornando ao presente e assim acaba a história deste que é o meu disco preferido do King Diamond. Talvez eu goste dele até mais que dos discos do Mercyful Fate.
O instrumental dos discos do King Diamond são sempre marcantes. Os músicos que o acompanharam ao longo da sua carreira sempre foram de altíssimo nível. Lembro-me de uma entrevista com Mikkey Dee, atual baterista do Motörhead, dizendo que era muito exigido nos shows devido à intensa variação rítmica e à dificuldade de execução das músicas quando era baterista do King Diamond.

Pete Blakk, Hal Patino, King Diamond, Snowy Shaw e Andy La Rocque
Acompanhavam King Diamond na época, além de Andy LaRocque, Pete Blakk na outra guitarra, Hal Patino no baixo e Snowy Shaw na bateria. O baixista acompanhou a carreira de King Diamond ao longo desses anos, ficando fora apenas durante sua saída no fim de 1990 até 2000. Snowy Shaw tocou em várias bandas ao longo dos anos 90, entre elas Memento Mori, Dream Evil e Mercyful Fate, mas o curioso é que de um tempo para cá ele deixou as baquetas para se dedicar aos vocais, além de também tocar guitarra eventualmente. Em 2006 ele gravou o álbum Gothic Kabbalah, da banda Therion. Em agosto de 2010 ele foi anunciado no Dimmu Borgir, mas um dia depois voltou para o Therion. Pete Blakk saiu logo após gravar esse álbum por problemas com drogas e hoje tem uma banda com Hal Patino chamada Disaster Peace.

Contracapa do album


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.